Prestes a
completar 70 anos, Moraes Moreira, poeta, cantador e cantor, lançou o livro
POETA NÃO TEM IDADE, pela editora Numa, na Livraria Argumento, no Leblon, em
novembro. Em breve aqui em Salvador. Após
os livros “ABC de Jorge Amado” e “A História dos Novos baianos e outros versos”,
que são biografias, Moraes se mostra mais diverso em suas temáticas neste novo
livro.
Amante
declarado do cordel, ele reúne obras tipicamente cordelísticas e enxertos de
outras formas do verso popular. Os poemas se intercalam numa mistura de métricas
e formas diferentes, lembrando-nos as mudanças de ritmo, típico do nosso
cancioneiro, sobre o qual ele também tem domínio total, todo musical. Sua
maestria é expressa na primeira parte do livro: “De cantor para cantador”, onde
foge do tradicionalíssimo esquema de rimas X A X A X A, e intrica ABCABC, ABABCCB, ABABCDCD e outros.
Atento à
tradição, ciente de que “O cordel tem seu rigor / e jamais permite ultraje”, Moraes
não deixa de exaltá-la juntamente com seus representantes máximos: “Me digam,
quantos Leandros / Precisamos com certeza / Pra vencer a correnteza / E excluir
os malandros?” , e também criticar e propor uma postura excludente dos
‘cordelistas’ de ocasião ou de versos estropiados. Imortal vivo da ABLC –
Academia Brasileira de Literatura de Cordel, sua entrada na academia é sinal de
um novo tempo. Tempo em que o ‘cordel’ volte a ser ‘considerado’ poesia e não
apenas uma narrativa em versos.
Na segunda
parte, “Di-verso”, a temática é lírica, e pesquei no prefácio de Júlio Diniz
que trata-se de “sua incursão pela poesia canônica e popular”, onde rememora,
filosofa, elogia e ama no embalo de ‘versos livres’ pentassilábicos,
heptassílabos e decassílabos nas quadras, sextilhas, septilhas, oitavas,
décimas e martelo alagoano numa “overdose
de poesia”.
Em ‘Nome dos
nomes’, a terceira parte, mestres, amigos, parceiros e musas são acarinhados
pelo poeta saudoso dos velhos tempos e feliz por prosseguir no caminho que
escolhera e o acolhera.
É bastante
revelador em “Família”, a quarta e última parte do livro, em que recorda e
reflete as memórias da sua geração, a casa da infância, os avós, a mãe, os
irmãos e os filhos. É comovente a afirmação de que é “...do tipo que chora /
vendo um desenho animado”.
Ótimo livro, não só para amantes do cordel ou do
Moraes, mas para todos os leitores de poesia. Seu prestígio junto à população e
aos meios de comunicação agrega mais valor ao cordel. Parabéns!