Mesmo
negligenciada pelos estudos literários contemporâneos e pelo “povo” que lhe
pertencia, a Literatura de Cordel encontrou um meio termo para sobreviver em
pleno Século XXI. A Educação tem sido este caminho, aberto ao final do século
passado, quando instituições como o MEC – Ministério de Educação e Cultura e
SESC – Serviço Social do Comércio deram uma injeção de ânimo, na valorização e
revitalização do “velho cordel” e divulgação e difusão do “cordel novo”. Recomendações
em parâmetros curriculares para as escolas se apropriarem do cordel como
ferramenta para o letramento das crianças, jovens e adultos; exposições,
seminários, concursos e debates despertaram em jovens a ânsia de conhecer a
arte universal de contar histórias em versos mais brasileira que existe: a
Literatura de Cordel. Lembrando também
que diversos escritores “imortais” e “marginais” brasileiros experimentaram
motes, rimas e métricas pelo simples prazer ou desafio de prender-se a uma
forma fixa e depois libertar-se.
O
Futebol, inserido em nossa cultura através dos ingleses pela ‘elite branca’
paulista, no final do Século XIX, manteve-se ascendente em termos de
popularidade e prática entre nossa população até os dias atuais, mesmo tendo
perdido 15 Copas, sendo duas delas em casa. O Cordel, chegado no mesmo período,
trazido na bagagem pelos colonizadores portugueses, ‘elite branca’ lusitana, ao
contrário, encontrou seu auge entre os anos 30 e 50 do Século XX, entrou em
decadência no período da Ditadura Militar, por repressão à livre expressão, ressurgindo
apenas nos Anos 90 como objeto decorativo, auxiliado pela xilogravura; suvenir
para turistas encantados pela “Cultura Popular”; fonte de dados para
historiadores; objeto de pesquisa e estudos acadêmicos literários e
linguísticos; produto literário rentável para gráficas do Nordeste e do
Sudeste; e fonte de inspiração e criação para novos escritores e escritores
novos. Escritores que vislumbraram na oralidade do cordel não apenas as toadas
do repente e do desafio, mas também o ritmo do coco, da embolada, do baião, do
cururu, do samba-de-roda, do pagodão, do rockn’roll, do rap, do funk e outros
mais; além da utilização da internet como meio de divulgação e comercialização
de livros e folhetos.
E
foi justamente com o Futebol, este baluarte irmão rico do Cordel, considerando
os dois como pertencentes a uma “cultura” dita “popular”, que Elton Linton O. Magalhães, um baiano
trintão, castro-alvense, profissional da área da Educação, professor
universitário de literatura, decidiu se mostrar ao mundo através da Literatura
de Cordel. Ele já havia trilhado este caminho com um folheto contando a História
do Esporte Clube Bahia e lançou outros 7 abordando temas que vão da homofobia
às escolas literárias. Elton agora
empenhou-se em desenvolver este épico romance, 2014: o ano da Copa no país do
futebol. Dividido em 4 tomos: O País, Os Povos, As Partidas e O Escrete
Brasileiro, o poeta narra a saga do nosso povo com uma visão sócio-político-futebolística,
que agrada mais que a seleção jogando em casa a Copa de 2014. As mais de 200
septilhas em esquema de rimas ‘x a x a b b a’, foram lapidadas e apuradas com primorosa
dedicação de artesão preocupado em mostrar uma linha de pensamento em que crê e
necessita compartilhar, inclusive nas redes sociais, embutindo ‘hastegs’ aqui e
acolá em seus versos, um traço de contemporaneidade bem sacado.
O
poeta, Elton Magalhães, flui sua verve em vocabulário coloquial simples e
prazeroso de ler, fazendo-nos querer conhecer não só a História do Futebol no
País da Copa, mas acompanhar o raciocínio de um escritor que se revela sincero
nos fatos, nas crenças políticas e nas emoções, sabedor que é da importância
deste esporte para nossa cultura e identidade.
Se
conscientes fossem da narrativa pungente aqui exposta, talvez o desempenho, ou
no mínimo, o interesse dos jogadores da Seleção Brasileira pelo esporte fosse
maior que pelo mundo “fashion” de cabeleiras coloridas, arrepiadas e excessivas
tatuagens corporais. Mas não culpemos o poeta por esta decepção inglória, vamos
ler e divulgar esta História pra as gerações futuras.
O
livro pode ser adquirido na página da editora: mondrongo.com.br
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