domingo, 7 de fevereiro de 2010

CORDEL DO CARNAVAL DA BAHIA

O poeta, Antonio Carlos de Oliveira Barreto, mais uma vez põe em prática duas atitudes que estão inovando o cordel baiano. Ele lança, primeiro, o texto na internet: no ‘blog’ e no ‘imeio’, para depois publicar na plataforma tradicional de papel, o folheto para venda. É uma generosidade grandiosa, brinda os leitores com o ‘tira-gosto’ virtual e depois oferece o ‘prato principal’ e real.
A partir da sua relação com o público leitor, Barreto, criou um novo estilo de cordel. O Cordel de Opinião Alheia. Ele comenta que, nas ruas, as pessoas sugerem, cobram e até exigem que ele escreva sobre determinados temas, o que nem sempre é confortável no mundo atual para quem busca a paz e a boa vontade entre os homens.
Buscando a neutralidade, o poeta, teve a brilhante ideia de perguntar a estas pessoas o que elas pensavam a respeito do tema citado, geralmente polêmico e tendencioso a injúrias pessoais. Transformou isso em versos, sextilhas ou septilhas, apresentando uma ‘reportagem’ opinativa sobre a temática em questão.
Ele já usou essa técnica nos folhetos a respeito de Padre Pinto, Big Brother, Clodovil, Obama, ACM, Lampião, Antonio Conselheiro e Caetano Veloso.
Agora ele nos oferta CARNAVAL DE SALVADOR – comércio, camarotes e vaidades, um cordel com 30 estrofes em septilhas. O poeta anuncia-se jornalista e com papel na mão pergunta a opinião das pessoas. Franklin Maxado, Nordestino, decano do cordel baiano, jornalista de profissão, lançou nos idos de 80 o cordel entrevista, mas nessa experiência, há apenas um diálogo, uma conversa, diferente da peleja, com a possibilidade de serem usadas mais de uma estrofe para responder a questão.
Na experiência de Antonio Barreto, o resultado é polifônico em seu imaginário poético e essa polissemia de opiniões gera identificação imediata, até por que, o poeta não perde o bom humor.
“— Hoje o clima é de apartheid
Feito o Muro de Berlim.
De um lado o povo simples
E do outro Camarim:
Criação de uma elite
Que passou a dar palpite
E fazer coisa ruim.

— Já existe fazendeira
Empresário, explorador
Donos de rede de hotel
Gente vil, bajulador
Matando essa bela festa
Que o mundo inteiro atesta:
Carnaval de Salvador.

— No Recife prazenteiro
Não tem corda ou escravidão.
Ninguém paga pra brincar
Lá quem manda é o folião
Mas aqui em Salvador
Não há ética nem pudor:
Tudo é privatização”

6 comentários: