domingo, 11 de dezembro de 2016

CORDEL BAIANO NÃO TEM IDADE

Prestes a completar 70 anos, Moraes Moreira, poeta, cantador e cantor, lançou o livro POETA NÃO TEM IDADE, pela editora Numa, na Livraria Argumento, no Leblon, em novembro.  Em breve aqui em Salvador. Após os livros “ABC de Jorge Amado” e “A História dos Novos baianos e outros versos”, que são biografias, Moraes se mostra mais diverso em suas temáticas neste novo livro.
Amante declarado do cordel, ele reúne obras tipicamente cordelísticas e enxertos de outras formas do verso popular. Os poemas se intercalam numa mistura de métricas e formas diferentes, lembrando-nos as mudanças de ritmo, típico do nosso cancioneiro, sobre o qual ele também tem domínio total, todo musical. Sua maestria é expressa na primeira parte do livro: “De cantor para cantador”, onde foge do tradicionalíssimo esquema de rimas X A X A X A,  e intrica ABCABC, ABABCCB, ABABCDCD e outros.
Atento à tradição, ciente de que “O cordel tem seu rigor / e jamais permite ultraje”,   Moraes não deixa de exaltá-la juntamente com seus representantes máximos: “Me digam, quantos Leandros / Precisamos com certeza / Pra vencer a correnteza / E excluir os malandros?” , e também criticar e propor uma postura excludente dos ‘cordelistas’ de ocasião ou de versos estropiados. Imortal vivo da ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel, sua entrada na academia é sinal de um novo tempo. Tempo em que o ‘cordel’ volte a ser ‘considerado’ poesia e não apenas uma narrativa em versos.
Na segunda parte, “Di-verso”, a temática é lírica, e pesquei no prefácio de Júlio Diniz que trata-se de “sua incursão pela poesia canônica e popular”, onde rememora, filosofa, elogia e ama no embalo de ‘versos livres’ pentassilábicos, heptassílabos e decassílabos nas quadras, sextilhas, septilhas, oitavas, décimas e martelo alagoano numa “overdose  de poesia”.
Em ‘Nome dos nomes’, a terceira parte, mestres, amigos, parceiros e musas são acarinhados pelo poeta saudoso dos velhos tempos e feliz por prosseguir no caminho que escolhera e o acolhera.
É bastante revelador em “Família”, a quarta e última parte do livro, em que recorda e reflete as memórias da sua geração, a casa da infância, os avós, a mãe, os irmãos e os filhos. É comovente a afirmação de que é “...do tipo que chora / vendo um desenho animado”.

       Ótimo livro, não só para amantes do cordel ou do Moraes, mas para todos os leitores de poesia. Seu prestígio junto à população e aos meios de comunicação agrega mais valor ao cordel. Parabéns!

2 comentários:

  1. Prezado poeta Jotacê,

    Li e fiquei feliz com os seus comentários sobre o livro de Moraes Moreira. Vou enviar a ele e tenho certeza de que se comunicará com você, através do seu blog. Como você deve saber, sou o irmão mais velho, e nessa condição de primogênito, achei-me "um pai velho" de todos, dele sobremaneira, ao abrir-lhe alguns caminhos desde que chegou em Salvador, carregando uma mala velha e o seu violão, para dar continuidade aos seus estudos. Já trazia uma fama interiorana de ser artista, cantando dos boleros às músicas da jovem guarda, e, logo depois, entrando pelo protesto, com o contato com Tomzé, a quem o apresentei. Daí pra frente a história é conhecida (ou desconhecida nos seus meandros), porém descortinada no livro "Mentiras e Verdades", do multifacetado artista Lula Martins, jequieense, mentor intelectual de os "Novos Baianos", no qual faz um maravilhoso, crítico, detalhado e revelador relato, sobre o cenário artistico-musical de Salvador (e do Brasil) a partir da década sessenta, anos de grande ebulição nas artes como um todo. Vale a pena conhecer este livro. Assim, o lado artístico de Moraes aflorou, os Novos Baianos, tornou-se no grupo musical de grande evidência e sem comparativos enquanto juntos, deslanchou na sua carreira solo, balançou o chão da praça, estendeu a mão e cantou com o poeta, voou nas asas do pombo correio, fez a festa da capital e do interior, viu um rio de gente correndo na Avenida, chamou gente para todos os cantos da soterópolis, eletrizou-se com Dodô e Osmar, eternizou o carnaval, foi fiel às suas raízes musicais, não se vulgarizou, produziu letras e músicas que moram no assobio e nos corações das pessoas, enfim, demonstrou, às portas dos setenta, o seu vigor e versatilidade, passando de "cantor pra cantador" de cantador para um poeta por inteiro, passeando com desenvoltura poética pela poesia canônica, pelo moderno cordel, sem deste mudar a essência, mas reafirmando a sua inquietude criativa, reestruturando estrofes, fazendo rimas exóticas e provocativas, como em "O Brasileiro do Século é o nosso Rei do Baião", numa homenagem aos centenário de Gonzagão, e como bem observou o poeta JOTACÊ, navegou como experiente marinheiro pelos mares da literatura de cordel, foi além da tradição, mas sem negá-la jamais, contou a própria história desde a tenra origem, brindou músicos, poetas, cantores, familiares, passeou pelos jardins de Atenas, viajou pela Idade Média, chegou aos tempos modernos, proseou com cientistas, foi ao Oriente e desembarcou na era atual, com o seu bailado de rimas e versos, misturando o som e a filosofia, com extrema espontaneidade, sem arroubos de eruditismo, escrever e apresentar ao seu fiel público, o novo livro, em perfeita SINTONIA com o seu estro, e, mais do que isso, consagrando-se compositor/poeta, poeta/compositor, no mesmo diapasão do cordelista e do canônico com todas as letras.
    Obrigado, Jotacê, e perdoe-me esse entusiasmo ao falar do meu irmão famoso, sem qualquer modéstia..

    Um abraço, vamos nos falar mais

    Zewalter

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  2. Querido Zéwalter, eu na o sou irmão e me senti orgulhoso em ser conterrâneo e contemporâneo desse 'cabra'. Não gaste sua modéstia com isto, nestes casos temos que ser superlativos. O seu entusiasmo só enriqueceu o nosso debate sobre poesia. A ampliação das informações deve deixar o leitor mais curioso em relação ao livro. O ‘oficina de cordel’ é nosso, um espaço para a divulgação da nossa poesia, não por bairrismo, mas para registrar o cordel baiano e brasileiro no mundo.

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