sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O QUE É CORDEL?



Num ciclo de estudos sobre literatura de cordel, realizado em 1976, em Fortaleza, sob o patrocínio da Universidade Federal do Ceará, indagaram ao prof. Raymond Cantel, da Sorbonne, grande estudioso do assunto, qual seria a definição mais compacta que se poderia dar do cordel. Seria apenas - perguntamos - poesia narrativa, impressa? Imediatamente, ele complementou: Popular. Então, aqui está a mais reduzida, a mais simples definição sobre cordel: Poesia narrativa, popular, impressa. Todo o acervo da literatura de cordel - cerca de quatorze mil folhetos publicados, para Átila de Almeida, embora outros estudiosos ampliem esse número - não tem sido outra coisa sequer isto: poesia narrativa, popular impressa.
De maneira que, qualquer outra manifestação semelhante ao cordel, cujo conteúdo divirja deste trinômio, deve ser apreciada com reserva. Não é poesia de cordel autêntica. Só existe uma maneira de identificar o cordel legítimo: é através da analise da ideologia que ele reflete. O poeta popular nordestino é conservador, por excelência. Há que examinar detidamente cada conteúdo dos folhetos, através da linguagem e das idéias que ali transparecem com espontaneidade.
Em geral, o poeta popular nordestino é católico ortodoxo. É amigo do vigário, defendendo-o em todo o sentido. Por sua vez, os padres prestigiam a tarefa dos poetas populares, quando não a exploram. O poeta popular é sempre a favor do governo. Há mesmo um célebre ditado que diz: "Contra o governo, rio cheio e pomba dura, etc..." Como igualmente o poeta popular repudia ou ironiza as inovações da tecnologia moderna. O que não quer dizer que não haja exceções, um bom exemplo é o nosso conhecido conterrâneo,
Patativa do Assaré.

Dois ilustres folcloristas brasileiros, Luis da Câmara Cascudo e Manuel Diéges Júnior, trouxeram, contribuição ao problema da origem da nossa literatura de cordel. Cascudo em vários ensaios e livros, sobretudo no seu "Vaqueiros e Cantadores" e "Cinco Livros do Povo", e Manuel Diéges Júnior especialmente no ensaio "Ciclos Temáticos na Literatura de Cordel". Eles nos mostraram a vinculação dos folhetos de feira, a partir do século XVII, com as "folhas volantes" ou "folhas soltas", em Portugal, cuja venda era privilégio de cegos, conforme informava Téofilo Braga.

Autor: Carlos Cícero de Lacerda Alencar

No Destaque, em verde, um preconceito que existe até hoje.

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